sexta-feira, 7 de junho de 2013

Fui Doutor, Professor, Enfermeiro

Fui Doutor,  Professor, Enfermeiro, merecedor de títulos variáveis e importantes.  Capaz de resolver todos os problemas pessoais e profissionais; problemas grandes e pequenos; meus e de outros.
 
Os títulos mantenho-os, mas não com a importância que tinham! Hoje em dia não passam de meras palavras por detrás do meu Nome Próprio (que já não sei bem qual é), palavras que não fazem mais sentido.
 
Hoje em dia já não me lembro quem fui, já não me lembro quem sou. Se um dia fui, tal como me chamam, Doutor, Professor, Enfermeiro, hoje não sei mais cuidar, hoje não sei mais ensinar; espero que de mim cuidem e que a mim ensinem tudo o que desaprendi, para que possa manter-me o mais autónomo possível durante os próximos anos, meses, dias, horas que me restam de esquecimento.
 
 
Não escrevo de mim, apenas o que vejo, escuto, sinto e esqueço.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Estímulos

O desconhecido é assustador e até medonho. Soa como trovão cada toque, cada riso, cada pingo de água do chuveiro a bater no chão, nos pés e na cara.  

Estímulos compreendo-os á minha maneira e sempre com medo, sem identificar de onde vêm, para onde vão e o que na realidade são. Estou perdido a flutuar num mundo que desconheço, que incompreendo; com objetos que não identifico e gestos que não percebo nem realizo simplesmente porque já não sei. 

Na verdade tenho medo, não sei de mim, o que sou e o que faço aqui...


Não escrevo de mim, apenas o que vejo, escuto, sinto e esqueço.


terça-feira, 26 de março de 2013

Mente Demente

É estranho ver cada movimento repetido, como se de um robot se tratasse, rigorosamente programado e rígido. Não muda nem um pó da sua rotina diária, fá-lo porque sim ou porque alguém lhe disse que deveria faze-lo. 

Rotina, hábito, memória que fica pela repetição enfadonha de cada passo, dia após dia.
E se um dia mudar de ambiente, de mobília, de horário, de virgula!?  O seu mundo descontrolar-se-á perdendo de novo a identidade que a vida o obrigou a ter e que por períodos o conforta.

Na verdade nunca voltará a ser como outrora… elegante, independente e diferente a cada instante. Agora a igualdade, a repetição e a monotonia fazem parte de si, são seres que em si habitam consumindo todos os seus movimentos já demenciados e desadequados aos olhos das mentes sãs.


Não escrevo de mim, apenas o que vejo, escuto, sinto e esqueço.


segunda-feira, 11 de março de 2013

Memória


Memória houvesse que um dia pudesse reter o que é fácil esquecer...Já vi fugir memórias e histórias da vida de gente, gente que agora finge sentir o que outrora não foi nem viveu; dizem ver o que na verdade não passam de meras alucinações,  delírios e confabulações que tomam como verídicas.
 
evoluciencia.blogspot.com

Que dor, que medo...deixar vazio de memória aquele espaço da vida que na verdade já foi esquecida...e ai é preenchida com algo que ninguém sabe o que é, nem de que memória vem...talvez fuga, mecanismo de defesa para apaziguar a dor e continuar a dar sentido a uma vida já olvidada…

Não escrevo de mim, apenas o que vejo, escuto, sinto e esqueço.